segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Umberto Eco

Na década de 80, ainda, caiu-me nas mãos um livro sobre semiologia (ou semiótica, sei lá) e lá, no último capítulo, Umberto Eco, (em Viagem na irrealidade cotidiana. 3.a ed. Ed. Nova Fronteira, 1984) fala sobre a diferença entre tragédia e comédia e afirma algumas coisas interessantes que despertaram ainda mais minha curiosidade sobre o assunto. 

No capítulo “O Cômico e a Regra”, Eco defende a tese de que o trágico e o dramático são universais porque em toda obra trágica, a regra violada é apresentada e reiterada continuamente no texto, enquanto que o cômico parece estar ligado ao tempo, à sociedade e à antropologia cultural porque as obras cômicas dão a regra violada como suficientemente conhecida. 

Eco também apresenta o “princípio de cooperação de Grice” (que eu fui estudar 15 anos mais tarde ao fazer meu mestrado em Inteligência Artificial: GRICE, H. P. - Lógica e conversação no livro Fundamentos metodológicos da lingüística. Organizado po DASCAL, Marcelo Ed. Global, 1978.). 

Herbert P. Grice observa que um diálogo não é constituído de uma sucessão de informações desconexas. Um propósito comum, ou conjunto de propósitos comuns, pode ser reconhecido pelos participantes de uma conversação. Existe um princípio geral que os participantes do diálogo observam, que é o de fazer sua contribuição conversacional quando for requerida, contribuindo para a construção do diálogo. A esse princípio, Grice denominou “princípio conversacional” ou “princípio cooperacional”.

Para Grice, supondo-se que tal princípio seja aceitável, existem quatro categorias (subdivididas em uma ou mais máximas), que produzirão resultados de acordo com o princípio da cooperação: quantidade, qualidade, relação e modo. 

Segundo Eco, pode ocorrer humor quando as regras de Grice (ou “máximas” como são cientificamente conhecidas) são violadas:

1) Máxima da Quantidade
a) faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto requerido (para manter o propósito corrente da conversação);
Exemplo cômico:
- Sabes me dizer que horas são?
- Sei, claro!
b) não faça sua informação mais informativa do que é requerido.

2) Máximas da qualidade - uma supermáxima foi relacionada por Grice, “trate de fazer uma contribuição que seja verdadeira”, além de duas máximas mais específicas:
a) não diga o que você acredita ser falso;
Exemplo cômico:
“Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem!”
b) diga somente aquilo para o que você possa fornecer evidência adequada.
Exemplo cômico:
“Acho os livros de Paulo Coelho horríveis. Ainda bem que nunca li nenhum!”

3) Sob a categoria da relação, apenas uma supermáxima é proposta: “seja relevante”. 
Exemplo cômico:
- O senhor conhece bem os perigos do mar?
- Puxa, esta pergunta me ofende! Saiba que eu sou do interior de Minas!

4) A categoria modo, ao contrário das categorias anteriores, que tratavam sobre o que é dito, está relacionada com a maneira como o que é dito deve ser dito. Grice criou uma supermáxima, “seja claro” e várias máximas:
a) evite obscuridade de expressão;
b) evite ambigüidades;
c) seja breve (evite ser prolixo);
d) seja ordenado.

Bom, foi um começo. Não me levou a nada prático, não consegui criar nada, mas aprendi um monte de bobagens!  

Meus textos para teatro e stand-up estão em:

www.euquefiz.com

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